Macovi: Xadrez que transforma vidas

Ao assistir o filme Rainha de Katwe, estrelado pelos talentosos Lupita Nyong´o e David Oyelowo, não há como não se surpreender com a força do esporte como fator de mudança social. E na vida real, embora ainda sem um filme que o represente, é Marceliano da Conceição quem vem mudando vidas com a Macovi. 

Fundada em 1999, a 𝐄𝐬𝐜𝐨𝐥𝐚 𝐌𝐚𝐜𝐨𝐯𝐢 𝐒𝐩𝐨𝐫𝐭 𝐂𝐥𝐮𝐛 é um projeto social sediado na cidade de Luanda, em Angola, e tem como presidente Marceliano da Conceição Correia, que criou o nome da escola em homenagem ao seu avô, Manuel Correia Vítor, unindo as sílabas iniciais do nome.

Marceliano, mais conhecido por Mbeco, se envolve com projetos sociais há cerca de 24 anos. Foi vice-presidente e cofundador da Associação de Xadrez do Uíge. Esteve sempre engajado nas causas sociais para livrar adolescentes e jovens da delinquência e contribuir para uma sociedade mais pacífica e feliz. Assim, mesmo com limitação de recursos, vislumbrou um projeto de ensino de xadrez como um meio de se destacar na área social, face à situação de guerra em que o país acabava de sair. 

Em suas próprias palavras, “naquela altura havia muita juventude na rua, na criminalidade e queria contribuir para o país”. O projeto começou na casa da família e contou com especial apoio e contribuição de sua mãe, que, além de disponibilizar o quintal de casa para as atividades, atuou como secretária da escola, enquanto seu irmão se voluntariou como professor das matérias escolares. No começo havia apenas duas mesas.

Quatro meninos moradores de rua foram os primeiros beneficiados, com destaque para Jeovane Santos, que mais tarde veio a consagrar-se várias vezes campeão provincial de Luanda, além de ter participado de torneios internacionais, chegando a vencer o GM cubano Luís Quezada, em 2019, e Marcelino Silva, um jurista que foi um dos vice-presidentes da Macovi. 

Com o tempo, o grupo foi crescendo e começaram a aparecer também meninas, como Valquíria Rocha, multicampeã nacional que representou Angola em vários campeonatos africanos, Luzia Guimarães e Nelma Lopes, no início incrédulas quanto à sua progressão na carreira de enxadristas devido à desigualdade de gênero e ao machismo estrutural. Entretanto, persistiram e tiveram a oportunidade de representar Angola no campeonato do mundo na Espanha. Na segunda geração de meninas acolhidas pela escola, destaca-se a mestre internacional Esperança Caxita, tricampeã africana. 

Com a missão de resgatar mais jovens da miséria e potencializar os benefícios, o projeto ampliou o leque de modalidades esportivas oferecidas para a comunidade, introduzindo karaté-do, futebol de salão, futebol de praia, handebol, basquete, judô, jiu-jitsu, tênis de mesa, capoeira, ciclismo de estrada e ginástica. Sem perder o xadrez como modalidade principal, algumas filiais da escola foram abertas em outros bairros de Luanda e também nas províncias do Cunene, Huíla, Namibe e Uíge.

Macovi segue como um projeto social sem fins lucrativos, que sobrevive de donativos de quem acredita na seriedade do trabalho que tem beneficiado centenas de crianças angolanas, desde sua fundação. Hoje há um total de 1500 atletas distribuídos nas diversas modalidades. Os professores da escola atuam como voluntários, sem remuneração, movidos pelo espírito altruísta em prol da massificação e do desenvolvimento do esporte nas comunidades, no combate à delinquência juvenil pela inclusão social. 

Fruto de tanta paixão e persistência, a Macovi consolidou-se como o melhor clube de xadrez de Angola e conta hoje com grandes nomes do xadrez angolano que foram formados nessa escola, como MI David Silva, WMI Esperança Caxita, WMI Maria Domingos, Domingos Júnior, WFM Ednásia Júnior, CM Cambando José, CM Lutuima Amaro, CM Sílvio Famorosa, WCM Delfina João, entre outros.

Além das vidas transformadas, o país vem somando vários títulos nas diversas modalidades pelas representações do país em torneios internacionais, fruto do árduo trabalho desses heróis nacionais. Com destaque para o xadrez, dos 10 enxadristas que compõem a seleção angolana participante da Olimpíada de Xadrez de 2022 (que começou dia 28 de julho e segue até 10 de agosto, na cidade de Chennai, Índia), três jogadores pertencem ao Macovi Sport Club, nomeadamente, os mestres Domingos Júnior e Ednásia Júnior (que são irmãos) e o CM Lutuima Amaro, além de outros dois formados na escola e que representam outros clubes: o MI David Silva (Team Leader) e a WIM Esperança Caxita (1º de Agosto).

Bem haja, Macovi Sport Club!

Redação: Caetano Serrote

E-mail do Caetano: serrotec@yahoo.com.br

Instagram: @xadrezafrica 

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